Foi no dia 25 de maio do ano de 1963 por intermédio do imperador da Etiópia, Haile Selassie, que nasceu a Organização da Unidade Africana que posteriormente viria a se chamar União Africana (2002). Até os dias atuais celebra-se essa data como o dia da África, com o objetivo de demarcar a importância histórica do envolvimento de 32 países africanos que pensaram em Unidade, em reforçar os laços, incluindo cada um de nós os africanos em diáspora.
Trago comigo, em minhas falas de
estudo e militância, princípios do pan-africanismo, da afrocentricidade e
unidade africana. No texto de hoje entrelaçada a cada um desses princípios
quero falar sobre laços, dos palpáveis aos intrínsecos que fazem com que seja
extremamente necessário comemorar e mais do que isso refletir sobre a data de
hoje. Acredito que essa celebração reforça que nossa reconstrução enquanto povo
se dará a partir de uma África livre, no continente e na nossa subjetividade dada
na diáspora.
O Honorável Marcus Garvey, quando
esteve preso em Atlanta no ano de 1925, escreveu:
“Se eu
morrer em Atlanta meu trabalho estará apenas começando, mas viverei, no físico
ou no espiritual para ver o dia da glória da África. Quando eu estiver morto,
embrulhe o manto vermelho, preto e verde em
volta de mim, pois na nova vida eu subirei com a graça e a benção de Deus para
levar os milhões até as alturas da vitória com as cores que vocês bem conhecem.
Olhem para mim num furação ou tempestade, olhem para mim em tudo ao seu redor,
pois com a graça de Deus, eu virei e levarei comigo incontáveis milhões de
escravos pretos que morreram na América e nas Índias Ocidentais e os milhões em
África para ajuda-los na luta pela Liberdade, Libertação e Vida” (GARVEY. pág.
152).
Garvey estava nos dando à
oportunidade de olharmos para a nossa ancestralidade e compromisso com os laços
que temos enquanto povo. Nessa fala, ele transpassa a morte física, pede para
que olhemos para ele e suas palavras na tempestade e em tudo que está ao nosso
redor porque nós somos África em nossa essência, mesmo que tenhamos sido
ensinados a não ter a menor ideia de onde viemos. Nós temos raízes e essas
raízes transpassam o continente. Esse laço africano está em nós!
Somos seres ancestrais e ainda
seremos ao retornar para o Orun. O que nós deixaremos para as próximas gerações?
Seremos nós os ancestrais a serem lembrados nas orações e nos encontros de nossas
famílias. Precisamos nos reconstruir onde estivermos, com base no que temos, pensando
sempre no que podemos possuir enquanto povo seja com laços sanguíneos, ou
espirituais.
O retorno físico pra África é algo
real e necessário, porque enquanto o continente não estiver livre do
colonialismo (ou neocolonialismo) que explora e sangra a maior parte dos países
africanos, nós em diáspora não teremos nação, ainda seremos considerados sem
pátria. Mas a construção dessa nação começa pela reconstrução de África dentro
de nós, de nossa espiritualidade, nossas comunidades e nossas estruturas
familiares.
Muitas pessoas me perguntam como
fazer isso? Mas provavelmente isso está mais em você do que eu possa responder.
Quais as práticas familiares mais antigas vocês fazem em conjunto? Olhe para os
seus mais velhos, o que eles ensinam? O que deixaram pra você de saberes práticos,
espirituais, alimentares, de autocuidado? Essas são nossas tecnologias, nossas
melhores ferramentas de não depender do ocidente pra tudo.
Patrice Lumumba, em 1958, na
conferência de Acra disse em seu discurso, “apesar das fronteiras divisórias e
das diferenças étnicas, temos a mesma consciência, a mesma alma invadida dia e
noite pela angustia, as mesmas ânsias e o mesmo sonho de fazer do continente
africano um continente livre, feliz, não oprimido pela inquietação e pelo terror
da dominação colonial” (LUMUMBA, pág. 26).
A colonização não acaba a partir do
encerramento de disputas políticas, Lumumba foi assassinado, Garvey morreu sem ver
suas propostas conclusas e nós seguimos instruídos pelo nosso opressor, reproduzindo
seu discurso e muitas vezes servindo a sua agenda, por nem enxergamos que
estamos mentalmente colonizados.
O resgate dos laços é uma forma
importante de cessar com a nossa autodestruição e torna-se essencial para a
nossa reconstrução. Está na hora de voltarmos para casa!
Procure por
África ao seu redor!
Feliz dia de
África!
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